Jantar com pilotos = falar sobre aviação

Todos nós adoramos jantar com os amigos e eu já considero os amigos dele, meus amigos também. Muitos deles também pilotos. Uns acompanhados de copilotos outros não. Confesso que me sinto uma pessoa de sorte, porque tenho conhecido pessoas fantásticas, que para além de simpáticas, são interessantes, com quem aprendo, e muito! E, como é comum, fazemos programas juntos, como pessoas normais que gostam de estar umas com as outras. Mas... ir jantar com pilotos é igual a ter uma noite a falar de aviação. =) Bem podes tentar falar sobre tartarugas ou os gorilas na África do Sul, mas… tudo vai dar ao mundo da aviação. Mesmo falando do prato que estamos a comer, acontece sempre alguém a dizer o que comeu no cockpit. Se falas de pássaros, obviamente vais falar sobre qualquer coisa que voe e com motor. Ou seja, qualquer que seja o tema, não duvidem, vai acabar no mundo das asas, nisto para não especificar: aviões, helicópteros, pilotos, comissários, experiências cá, experiências lá fora, etc… Por mais esforços que se façam, é mais forte que todos eles. É tão difícil de evitar como o eclipse solar.

E isto tem um efeito contagiante que acaba por enfeitiçar qualquer pessoa que esteja na mesa. Mesmo que estejas a falar sobre uns sapatos lindos que viste ou de um filme que adoraste, a possibilidade de acabares a falar de aviação ou viagens é enorme! Isto da aviação é como a doença do beijinho, passa-se facilmente mas é difícil de curar.

Não me queixo. Acho piada e divirto-me muito, porque também eu tenho um fraquinho por este mundo. Ele voa e eu gosto de saber mais sobre o mundo dele, que também é um bocadinho meu.

Não é tudo um mar de rosas.

Na minha vida tento concentrar-me no que é positivo e sou agradecida por tudo aquilo que tenho. Talvez esse positivismo que passo na minha escrita faça alguns de vocês pensar que tudo é uma mar de rosas. E, obviamente que não é. 
Estar com um piloto é estar com um homem que tem as suas virtudes e defeitos, tal como eu e como qualquer pessoa. Por isso, somos 2 seres humanos que também têm muito a aprender. Nesta caminhada de 7 anos houve obviamente altos e baixos, mas que foram e têm sido autênticas aprendizagens. Não há relações perfeitas e esta também não é, mas acredito que quando se ama verdadeiramente a outra pessoa, os obstáculos são mais fáceis de ultrapassar.  
Como em qualquer relação, há dias de neura, há dias que vê-lo a sair com a mala e saber que vou passar um fim de semana sozinha é difícil, assim como é difícil às vezes não poder contar com ele em datas que só fazia sentido estar com ele. Há momentos que realmente precisas de um abraço e não o tens. Mas é tão difícil para mim, como para ele. Aliás, por vezes, acho mesmo que ainda é mais difícil para ele. Porque ele é que está fora e longe de tudo. Sim, é difícil e muito! Mas isto é como tudo na vida, devemos saber balancear os aspectos positivos com os negativos e se os positivos continuam a pesar mais, então é porque continua a valer a pena. 
Posso ser sonhadora, sensível, romântica. O que for. Mas a vida para mim só faz sentido desta forma.

O mito ou a verdade.

É verdade que é muito mais simpático entrarmos num avião e sermos recebidos por uma tripulação gira, mas - sem qualquer tipo de preconceito -  se fossemos nós (mulheres de pilotos) a escolher, esta seria a selecção. Brincadeirinha!

Uma gracinha em torno de uma questão com a qual somos muitas vezes confrontadas – "Ah, o teu namorado é piloto… ah... pois (silêncio), e não ficas receosa de ele andar sempre com mulheres tão bonitas?" (cara de interrogação e suspense).

Tem dias que sim, tem dias que não, dependendo da fase do mês, hehehe. 

Na verdade, acredito que, se a pessoa que tenho ao meu lado tiver de se apaixonar por outra mulher que não eu, isso vai acontecer aqui ou no outro lado do mundo. Por isso, relax! Eu também trabalho com gente gira e se isso fosse um problema, então muitas relações não existiram!

Até porque trabalhar com gente gira e simpática é sempre muito mais interessante. Não é verdade?

Um sorriso e um ótimo fim de semana para todos :)

Há muitas copilotos por aí.

No mundo das copiloto há mulheres muito interessantes. Entre as pessoas que de forma feliz conheci estes últimos anos, encontram-se vários rostos. Pretendo falar de todas elas, como exemplo de vida, que admiro.

A Alexandra. Mulher de piloto, que já foi militar, que agora é civil e responsável por apagar os fogos quando estes decidem desbravar mato e fazer muita gente infeliz. As histórias dele são muitas, entre sustos e momentos de puro heroísmo. Desculpem, mas não é uma actividade para todos. Para além de serem tecnicamente exímios, têm de ter uma coragem e coração enormes. Um tamanho que é impossível definir, que não cabe na mente de quem não olha pelo outro. Entre Verões duros de muitas idas de destacamento e escassos regressos, a Alexandra mantém-se lá. Firme para gerir a vida juntos e dar-lhe força. Ele é piloto, mas, tu és uma verdadeira copiloto.

Como a Alexandra há várias mulheres que, apesar de não serem, vivem e gerem a vida como se fossem pilotos, quer sejam militares ou civis.

Dos quase 7 anos que vivo ao lado do meu piloto, eu própria fiz parte da esquadra. Tu vais destacado, eu fico a gerir a nossa vida por cá, com saudades tuas, com saudades do teu quentinho, mas tendo a certeza que estas aí por um bem maior! Eu partilho-te, porque sei que estás a fazer outras pessoas felizes, ou porque lhes recuperaste a vida ou porque chegaste a tempo para ajudares a dar à luz uma nova vida. 

Não fui da tua esquadra, mas vesti o teu fato de piloto todos os dias, sobretudo quando saias de casa com a mala feita. E ainda hoje o faço.

Sei que há muitas copiloto por aí que pensam e sentem o mesmo: há momentos duros e sei que as dificuldades não terminam, mas respeito muito o trabalho, dedicação e sacrifício que todos os pilotos dedicam, por um sonho, um sustento ou simplesmente, porque tem de ser.

Mas, apercebi-me que esta profissão não é para qualquer um. É para quem gosta e tem um grande coração e para quem tem ao lado uma grande copiloto.

Socorro! Ele não voa há 1 semana.

Há vários tipos de abstinência e a de voar é uma delas. Semelhante à droga (imagino!), tem um efeito corrosivo no corpo de um piloto. Experimentem meter um piloto de férias um período superior a 1 semana. As noites passam a ser mal dormidas, a inquietação aumenta a cada dia que passa e na fase final é possível que haja até suores frios. Para acalmar a falta, o senhor dos gelados Santini queima as rodas da mota com tantas vezes que faz o percurso até lá a casa, as idas ao Mc Donalds aumentam, a vontade de devorar pipocas torna-o o verdadeiro monstrinho das bolachas e lá se vai a dieta. Confesso que eu também não resisto e claro, acompanho-o nestas loucuras. Afinal de contas, 'é na alegria e na tristeza'. 
A sorte é que uma mente inquieta pode canalizar as suas energias para outras actividades menos calóricas, digamos... Aí começam as aulas de piano, a vontade de fazer um voo de asa delta, aprender a fazer kyte surf, as idas diárias ao ginásio, a vontade de comprar um avião, encontrar novos conceitos para festas e quem sabe, acabar na universidade a tirar um novo curso. 
Um piloto sem pilotar é pior que um passarinho numa gaiola, no primeiro dia aguenta, mas depois a vontade de abrir asas é maior. Piloto trancado é melhor não. Chegará o dia que serei eu a ligar para as escalas: "desculpe, tenho aqui um piloto em abstinência, há possibilidade de arranjar ai um voozinho nem que seja até Madrid?"

As deco-aeronaves.

Independentemente do tamanho da casa, tem sempre de haver espaço para as mil e umas miniaturas das aeronaves. Sim, aeronaves: aviões, avionetas, helicópteros, grandes, pequenos, médios, uns com um ar mais sério, outros de brincar à espera de serem usados pelos futuros rebentos. 
Há elementos básicos em cada casa, como ter um sofá, uma mesa com cadeiras, um frigorífico, uma cama. Na casa de um piloto, também existem. E um deles é a estante que se vai enchendo de pequenas miniaturas à medida que a experiência vai crescendo e os modelos que pilotam também aumentam. Na nossa casa, os grandes EH 101 ficam lado a lado com os A319, os A320 e os A321. Partilham a mesma beleza, com a marca de Portugal, mas diferem-se por um cento de características que não vos consigo explicar com o rigor recomendado. Uns helicópteros e outros aviões. Quando esse espaço já não é suficiente, começam a voar para outras localizações. Qualquer espaço livre, pode ser ocupado a qualquer momento. Isto, já para não falar dos quadros, qualquer bar de pilotos é capaz de ter menos adereços. 
Mas, é uma decoração feliz de quem gosta de alma e coração do que faz. E apesar de eu não pertencer directamente, não escondo o meu fraquinho por este mundo.

O sim deixa de existir.

Para nós, o sim é uma palavrinha rápida, fácil e que todos entendem. Mas, talvez o seu ar normal e simples não é suficientemente sério para ser usado entre os profissionais do mundo da aviação.      
Assim sendo, o comum 'sim' faz as malas e vai cantar para outras bandas.    
Piloto que é piloto não usa o sim, usa o "Afirmativo!". 
Esta palavra, com 5 silabas e 10 letras incorpora toda uma força que faz temer os mais encorpados. Eu própria já experimentei dizer  'afirmativo' em vez do modesto 'sim' e a nossa convicção e sentido de certeza aumenta 300%. A isto, agregado a um respeito que só visto! Funciona! Posso garantir-vos =) .     

Depois há uma outra palavrinha mágica que de vez em quando pinta uma ou outra conversa. É claro que numa conversa há toda uma troca de mensagens e sobretudo no mundo das aeronaves é muito importante que todos se entendam e bem. Nós agradecemos! Por isso, qualquer conversa que no fim tenha a informação correcta, passa a ser confirmada com 'copy that' ou 'roger'. 
Confesso, gosto do ar profissional, sério e respeitoso deste afirmativo, não seria eu mulher orgulhosa de um homem que o usa com frequência. Não deixa de ter um lado fofo atrás de tanta dureza!

Todo um novo abecedário.

Pedir a um piloto ou a um militar para dizer uma simples informação que contenha letras, é todo um código, que obrigada a um mestrado em fonética para o  comum dos mortais. 'Mor, podes dizer-me a matricula do teu carro?' Resposta: Claro, charlie-delta-32-foxtrot-yankee.' É o momento que o meu cérebro já se desligou e está a fazer um restart, selecionado a opção «mudar de linguagem». Portanto, se por acaso algum(a) de vocês quiser conviver com estes senhores, é o favor de estudarem o abecedário fonético, porque nunca se sabe quando uma informação valiosíssima pode ser passada usando o 'alpha-bravo-echo-charlie-echo-delta-alpha-romeo-india-oscar foxtrot-oscar-november-echo-tango-india-charlie-oscar'. O melhor mesmo é andar com a cabula no bolso, não vá haver um lapso de memória e perdermos um momento em que ele nos convidou para um fim-de-semana romântico nas Maurícias. ;)

A mala.

Aquele elemento que passa a fazer parte da decoração. Entre idas e voltas, a mala permanece na sala, à espera da próxima saída. Ora está cheia, ora está vazia. Mas ela continua lá, de forma persistente à espera de ser cheia, com roupa de verão ou roupa de inverno, ansiosa pela próximo destino. Confesso... já desejei muitas vezes ser esta mala. Já foi mais vezes a Roma, que eu alguma vez conseguiria na minha vida! A grande pergunta é: como conseguimos encaixar aquele objeto 'bonito' na restante decoração? O grande problema é que por mais que se queira, ela está sempre lá no seu esplendor a dar um toque ainda mais desarrumado ao T1! Por isso, só nos resta viver com ela, porque queiramos quer não, agora faz parte da nossa vida e da nossa decoração.

Ps. As malas poderiam ter o aspecto das da fotografia, mas não é o caso. Uma foto real poderia impressionar os mais sensíveis, hehe.

O escritório e a responsabilidade.

O escritório dele é bem mais simpático que o meu, mas a responsabilidade é também muito maior. Ter a responsabilidade de fazer chegar 100 a 200 pessoas diariamente ao seu destino não é MESMO pequena. Imaginem a quantidade de sonhos e histórias que cada piloto transporta? Tem um lado romântico, mas também uma responsabilidade que pesa em cada um dos galões. Para se ser piloto tem de se ser muito bom e provar que se é. De 6 em 6 meses, são expostos a exames de aferição de conhecimento e físicos para provar que podem continuar a transportar vidas de um lado para o outro. É bom saber isso, não é? De certeza que se vão sentir mais tranquilos na próxima viagem.

A escala.

São muitas as questões que as mentes curiosas me colocam sobre o mundo da aviação e sobretudo como é viver com um piloto. Pois bem, é um homem como todo os outros. Hehe. E vocês perguntam: 'pois mas não é difícil de viver com uma pessoa que está constantemente fora'. É verdade, mas depois de 7 anos a viver nesse modelo, nós acabamos por criar a nossa própria rotina. E ele não está sempre fora. É verdade que o momento auge do mês (em termos de organização) é a escala. A bela tabela que vai ditar quantos fins de semana vamos conseguir passar juntos, quantas estadias vai ter fora, quantos dias vou ter saudades dele e que não vou dormir tão bem, sem o quentinho dele. Posso dizer-vos que a escala tem meses em que é bem fofinha e que nos permite ter um bom equilíbrio entre estar cá e estar fora. Mas há outros meses que é bem mázinha e não nos dá essa benesse. Mas, para terem uma ideia, uma escala normal pode ter 2 estadias por semana (máximo) e algumas idas e voltas que permitem jantar com ele. Outras, em que consigo contar com ele a maior parte da semana. Portanto, não é assim tão difícil. É mais uma gestão como todas desta vida.